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Monção

Galiza: Esta vila (tal como Monção) também tem uma Coca – Conhece a lenda?

6 Junho, 2023 - 17:10

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Festa da Coca.

Tal como acontece em Monção, em Redondela também se festeja o Corpo de Deus com um dragão… e também este se chama Coca. Embora semelhantes, as duas lendas têm algumas diferenças de um e do outro lado do rio Minho.

 

Em Monção temos um Santo [São Jorge] que, em plena Idade Média, acorre à vila e salva uma jovem apanhada pelo terrível animal. Derivações ao longo dos tempos disseram que o tenebroso dragão veio mesmo das águas do rio Minho. 

 

Já em Redondela, localidade geminada, o mesmo dragão teimava em sair das águas da ria de Vigo e invadir aquela vila. Também durante a Idade Média, raptava jovens raparigas. Aqui foram os marinheiros da terra a colocar fim ao pesadelo. Apanharam o bicho e mataram-no com golpes de espada.

 

Em ambos os concelhos, esta vitória ainda hoje é celebrada. Um símbolo do triunfo do bem sobre o mal.

 

 

 

Festa da Coca em Redondela, na Galiza

[Fotografia: DR]

 

 

Ponto alto das festas

O combate entre S. Jorge e o dragão repete-se todos os anos, em Monção. É um dos pontos altos das Festas do Corpo de Deus que, neste concelho, são popularmente designadas como Festa da Coca, aludindo ao nome com que foi batizado o animal.

 

A tradição repete-se há tantos anos que ninguém sabe ao certo quando começou.

 

A luta acontece sempre ao final da tarde de quinta-feira, feriado de Corpo de Deus, no anfiteatro do Soito. O próximo combate vai realizar-se na quinta-feira, dia 8 de junho.

 

A multidão enche a arena e, evidentemente, todos torcem por S. Jorge – que, contrariamente ao dragão, simboliza o bem.

 

As regras são simples: num primeiro round, o Santo tem de espetar uma lança por três vezes na boca do animal. Depois, já munido de uma espada, tem de cortar uma das orelhas da Coca.

 

Parece fácil, mas à medida que o combate avança, cavalo e cavaleiro têm de fazer cada vez mais esforço. Até porque a cabeça do dragão move-se para um lado e para outro, o que dificulta ainda mais a tarefa.

 

 

“Estar à coca”

“Dizem que a Coca era um monstro que outrora andava aqui nas águas do rio Minho e que apanhava as raparigas que encontrava na ribeira. Até que um dia, apanhou a mulher de S. Jorge”, contou o historiador José Hermano Saraiva em 1998, durante o programa televisivo Horizontes da Memória dedicado a Monção.

 

“Claro que S. Jorge não gostou. Ficou muito zangado. E travou um grande combate com a Coca… e matou-a”.

 

Mas que verdade é que pode existir nisto tudo?

 

Conta o historiador que “na Galiza existe o mesmo simbolismo da Coca”, dando exemplos de várias expressões galegas onde o termo se aplica como se fosse “um papão para meter medo”. E lança para a mesa a conhecida expressão “estar á coca”. “Porque o medo espreita-nos sempre”, disse.

 

 

 

S. Jorge poderá ser… S. Miguel

Mas o que tem a Coca a ver com o Corpo de Deus? “Nada”, diz José Hermano Saraiva. E isso levou etnógrafos e investigadores a tentar perceber qual a origem deste episódio “aparentemente pagão” colocado numa celebração cristã como é o caso do Corpo de Deus.

 

“Durante o século 15 e talvez uma parte do século 16, havia duas procissões que eram obrigatórias e que se faziam perto uma da outra: uma era a do Corpo de Deus e a outra era a de S. Miguel”, explicou José Hermano Saraiva.

 

“S. Miguel era o chamado Anjo Custódio. Era o Anjo Protetor de Portugal. Os Reis de Portugal mandavam representar as cinco quinas no escudo que S. Miguel exibia. É o guarda dos céus que trava o combate com satanás”, explicou.

 

Ora, em tom dedutivo, o historiador recorda que este combate entre o anjo do bem e o anjo do mal foi muitas vezes teatralizado na idade média. “Como as duas procissões eram obrigatórias, começaram a incorporar o episódio da luta de S. Miguel nas celebrações do Corpo de Deus”.

 

Mas porque é que mudaram o nome ao Santo? “Por uma razão simples. S. Jorge passou a ser o patrono do nosso exército”, concluiu José Hermano Saraiva para quem esta tradição monçanense “poderá ser uma reminiscência do teatro medieval em que se representava a luta entre S. Miguel e lúcifer”.

 

 

Um dia em que a Coca venceu mesmo

Diz a lenda que, sempre que S. Jorge ganha, o ano será de boas colheitas e de bom vinho em Monção. E o Santo ganha praticamente sempre todos os anos. No entanto, o insólito já aconteceu. Há testemunhos de quem tenha presenciado o impensável.

 

Há uns 30 anos, diz-se, houve em Monção um combate em que o cavalo se assustou com a Coca. O animal galgou a parte onde o público estava sentado. A Coca venceu.

 

 

 

Veja o programa de José Hermano Saraiva em Monção (1998)

 

 

 

[Fotografia capa: DR]

Tópicos:

#Tradição

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