A anual e secular festa da ‘Vaca das Cordas’ de Ponte de Lima vai mudar este mês para uma sexta-feira devido ao fim do feriado do Corpo de Deus, confirmou hoje à agência Lusa fonte municipal.
A festa movimenta milhares de pessoas e acontecia, até agora, na véspera do dia do Corpo de Deus, celebrado numa quinta-feira, 60 dias depois da Páscoa, data que este ano se assinala a 30 de maio.
Contudo, devido à suspensão deste feriado religioso, o programa municipal das festas agendadas em Ponte de Lima até setembro já prevê a realização da ‘Vaca das Cordas’ a 31 de maio, uma sexta-feira.
“O mundo pula e avança. Nós também temos de estar atentos a tudo o que existe à nossa volta e adaptarmo-nos. Mas a essência da festa não vai mudar. Continuará a ser representativa desta identidade e isso é que interessa”, disse à Lusa, durante a festa de 2012, Franklim Sousa, vereador da Cultura na Câmara de Ponte de Lima.
A partir deste ano ficaram suspensos durante cinco anos os feriados do Corpo de Deus, que se celebra a uma quinta-feira, cuja solenidade é transferida para o domingo seguinte, e o Dia de Todos os Santos, celebrado em 01 de novembro, conforme acordo entre a República Portuguesa e a Santa Sé.
A tradição da ‘Vaca das Cordas’ obriga a que o animal – que afinal é um touro sempre com mais de 450 quilos -, saia para a rua pelas 18:00, conduzido por cerca de dezena e meia de pessoas e preso por duas cordas.
É levado até à Igreja Matriz e preso à janela de ferro da Torre dos Sinos, sendo-lhe dado um banho de vinho tinto da região, “lombo abaixo, para retemperar forças”, conforme reza o costume local.
Dá depois três voltas à igreja, sempre com percalços e muitos trambolhões à mistura dos populares que ousam enfrentá-lo, após o que é levado para o extenso areal da vila, dando lugar a peripécias, com corridas, sustos, nódoas negras e trambolhões e até pegas de caras amadoras.
A mais antiga referência que se conhece da ‘Vaca das Cordas’ remonta a 1646, quando um código de posturas obrigava os moleiros do concelho (ministros de função) a conduzir, presa por cordas, uma vaca brava, sob condenação de 200 reis pagos na cadeia.
Mais tarde, segundo o Código de Posturas de 1720, a pena agravava-se para 480 réis.
Diz a lenda que a Igreja Matriz, da primitiva vila, era um tempo pagão dedicado a uma deusa, simbolizada por uma vaca.
Posteriormente, este templo foi transformado em igreja pelos cristãos que retiraram do seu nicho a imagem da “deusa vaca” e com ela deram três voltas à igreja, após o que a arrastaram pelas ruas da vila, para alegria de todos os habitantes.
Daí virá o costume da ‘Vaca das Cordas’, um ritual que foi interrompido em 1881 pela vereação, tendo reaparecido por volta de 1922, para não mais deixar de se realizar.
A festa passou entretanto a ser organizada pela Associação Concelhia das Feiras Novas de Ponte de Lima.
Segundo fonte municipal, a ‘Vaca das Cordas’ de 2013 vai coincidir com a inauguração – 31 de maio – da 9.ª edição do Festival Internacional de Jardins de Ponte de Lima, recentemente galardoado com um prémio internacional na área do turismo sustentável.
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