O PCP acusa a Empordef de nomear um gestor “em part-time” para os estaleiros de Viana do Castelo e Arsenal do Alfeite, contribuindo para uma “maior degradação” da empresa minhota e tornando “mais fácil a imposição da privatização”.
Num requerimento que deu entrada na Assembleia da República, os deputados António Filipe e Honório Novo questionam o Ministério da Defesa sobre se a decisão da Empordef, de fazer Jorge Camões acumular a presidência dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) com o Alfeite foi avalizada pela tutela.
“Teremos então Jorge Camões em Viana do Castelo às segundas, quartas e sextas-feiras e teremos o mesmo gestor, às terças, quintas e sábados na coordenação da Administração do Arsenal do Alfeite”, afirmam os deputados comunistas, lembrando os “mais de 400 quilómetros” que separam os dois estaleiros públicos.
António Filipe e Honório Novo classificam a decisão como “insensata” e dizem que “o desempenho das mais altas funções na gestão dos ENVC num regime próximo do part-time tem sido, ao longo de muitos anos, uma das causas que muitos observadores apontam – e de forma bem ajustada – como origem dos problemas”.
Os dois deputados do PCP exigem do ministério liderado por José Pedro Aguiar-Branco uma justificação “urgente” sobre a acumulação de “tais funções em duas empresas atravessando problemas tão graves e situadas a uma tão grande distância”.
“Como é possível que o Governo admita que gestores em regime de part-time sejam capazes de defender os interesses empresarias destes dois estaleiros navais e os postos de trabalho dos respetivos trabalhadores?”, perguntam.
“A convergência de diversas decisões ou omissões estão a contribuir para uma ainda maior degradação da situação nos ENVC com o objetivo claro de tornar mais fácil a imposição da privatização”, lê-se ainda no requerimento.
A administração da Empordef garantiu na quarta-feira que a nomeação de Jorge Camões para a administração dos dois estaleiros não representará qualquer acréscimo de custos: “Conforme o estatuto Remuneratório dos Gestores Públicos, não aufere qualquer remuneração por este cargo”, afirmou à Lusa fonte da administração da Empordef.
“Tendo em conta o processo de reprivatização dos ENVC em curso, bem como as sinergias e complementaridade das duas operações, esta decisão permite a gestão mais eficiente e racional do negócio naval da Empordef”, justificou a “holding” que reúne as indústrias de Defesa do Estado.
Segundo a Empordef, “as capacidades e conhecimento profundo do setor por parte do engenheiro Jorge Camões garantem a defesa dos interesses nacionais, bem como de cada uma das empresas”, tendo o administrador “um conhecimento direto do Arsenal do Alfeite porque fez parte da equipa de projeto da empresarialização”.
Na sexta-feira, a assembleia-geral da Empordef nomeou o administrador dos ENVC como presidente executivo do Arsenal do Alfeite. Além de Jorge Camões, o almirante Francisco Salgado foi nomeado administrador executivo e José Miguel Fernandes, que transita da administração anterior, foi reconduzido.
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