Há espaço para mais uma candidatura de Esquerda?
Há muito espaço. Quantos mais candidatos houver, especialmente se tiverem um currículo diversificado, mais serão os votos que poderão conquistar à Direita.
Independentemente de haver ou não apenas uma candidatura de Direita?
Principalmente se houver só uma candidatura do lado direito. Haverá a possibilidade de cada um de nós ir buscar mais votos ao centro, que é onde se ganham as eleições. O PS não escolheu bem o candidato porque foi capturado pela extrema-esquerda e deixou o espaço do centro-esquerda livre para ser conquistado pela Direita.
Mas acabará sempre por disputar o centro-esquerda com Manuel Alegre.
Sim, é evidente que haverá sobreposição. Mas temos que multiplicar os votos à Esquerda para evitar que a Direita ganhe com facilidade na primeira volta.
Não acredita que Alegre consiga derrotar Cavaco Silva?
Logo no início, ficou como candidato do BE que o PS apoia três ou quatro meses depois.
Onde é que as coisas falharam?
Houve demasiadas hesitações e isso reflecte menor unanimidade. Ficou a perceber-se que o apoio a Alegre foi uma inevitabilidade. A estrutura não teve alternativa e é com resignação que o apoia.
Diz ter sido incentivado após o apoio oficial do PS a Alegre? Por quem?
Por colegas do Parlamento e na própria reunião onde se discutiu o assunto. Há uma candidatura em que o partido maioritário se alia à extrema-esquerda. E é precisamente o BE que menos sintonia tem com o PS no Parlamento.
Não quer dividir o PS mas tem apoios de membros do grupo parlamentar…
Uma candidatura presidencial é individual. E a votação também. Não vou dividir a estrutura do PS. O aparelho está com Alegre.
Conversou com José Sócrates e, também, com Mário Soares. O primeiro tentou demovê-lo?
Ninguém tentou demover-me.
Sentiu algum tipo de incentivo por parte de Mário Soares?
Não quero dizer isso. É a eles que deve colocar essa pergunta. Tentarei sempre não comprometer ninguém com as minhas decisões. E não deitar a culpa a outros.
Alegre merece ter o apoio do PS?
Todos têm direito a ter o apoio do PS desde que o conquistem, eu não tentei. Alegre tornou uma inevitabilidade para o partido apoiá-lo, foi uma boa estratégia. Concorro com ele, não contra ele.
Cavaco Silva é um bom presidente?
Especialmente no último ano, tem retirado dignidade ao cargo porque enreda-se numa teia de declarações que são entendidas como recado aos outros órgãos de soberania. Podemos compará-lo a um comentador político. Tem de haver algum recato e não é correcto o presidente da República vulgarizar-se, mediatizando opiniões e gaguejando tantas vezes por não saber o que dizer. Até porque diz coisas que tem de corrigir depois, o que lhe retira prestígio.
O actual presidente é respeitado?
Podia ser mais. O procurador da República comparou-se à rainha da Inglaterra. Ela tem apenas um poder simbólico mas como fala pouco é ouvida. E sendo ouvida é respeitada. E isso é o que o procurador e todos os órgãos de soberania deveriam levar à prática.
Está a dizer que Cavaco Silva deveria falar menos?
Sim, devia falar menos. E deveria pensar sempre antes de falar.
Sugeriu que deveria ter dissolvido a Assembleia no início deste ano.O Governo deveria ter tido a possibilidade de fazer acordos estáveis com a Oposição. O presidente da República tinha obrigação de exercer a sua magistratura de influência e criar condições para uma governação tranquila e eficaz. Se persistisse a instabilidade, deveria dissolver a Assembleia.
O líder do PSD ameaçou chumbar o Orçamento.
É uma ameaça gratuita. Se a avaliação que o PSD faz da situação é assim tão grave, então que apresente uma moção de censura.
O que deve, agora, fazer o presidente da República?
Está a assistir passivamente a esta encenação de dramatização política. Deve chamar imediatamente os líderes dos partidos e o Governo e pressioná-los a fazer um entendimento. Até porque o prazo para dissolver a Assembleia é até 9 de Setembro. É fundamental haver um Orçamento de Estado. Se vir que não há essa perspectiva, é melhor provocar eleições.
Este Governo vai chegar ao fim?
Se um governo não conseguir ter a eficácia necessária para dar credibilidade e estabilidade governativa, deve ser substituído. O presidente não é um adversário do Governo, deve ter cumplicidade. Tem também responsabilidade se este Governo não chegar ao fim.
Se for eleito, dissolve a Assembleia?
Se não conseguir soluções estáveis, não prolongarei durante um ano a instabilidade governativa.
O presidente deve ter mais poderes?
Os poderes são suficientes, de todos os órgãos. Mas o mandato deve ser único, para não haver no final esta flexibilidade táctica do presidente, que não exerce totalmente as competências, como a de dissolver a Assembleia, porque isso pode prejudicar a reeleição.
O referendo sobre regionalização deve ser logo após os presidenciais?
O mais depressa possível. E deve fazer-se uma alteração para haver possibilidade de criar regiões sem serem todas em simultâneo.
Deve haver uma região-piloto?
Nunca deve ser a administração central ou os partidos a dizer
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