O artista plástico Bordalo II, que tem uma obra no Museu Monção&Memórias, transformou a Praça Duque da Terceira, em Lisboa, num tabuleiro de Monopólio gigante, esta sexta-feira, para criticar a crise na habitação em Portugal.
“As nossas cidades estão a ser convertidas em grandes tabuleiros de jogo. O direito à habitação, presente na Constituição, está agora à mercê da sorte ou do azar. Alguns jogadores trocam casas por hotéis, uns hipotecam os imóveis à banca, outros são a banca – mas neste jogo, nem todos começam com a mesma quantia e poucos recebem ao passar pela casa de partida”, escreveu Bordalo II no Instagram, onde partilhou algumas imagens da obra, intitulada ‘Provoc’.
Esta obra foi produzida com lona e ocupa a grande rotunda existente na praça lisboeta.
Recorde-se que o Monopólio é um famoso jogo de tabuleiro, criado nos Estados Unidos, no início do século XX.
Quem o joga simula atividades de compra, venda e aluguer de propriedades com o objetivo de levar os jogadores adversários à falência.
Só que a Câmara de Lisboa não achou graça nenhuma.
Em declarações ao jornal Observador, a autarquia liderada por Carlos Moedas disse estar a proceder à “remoção da lona colocada na Praça Duque da Terceira”, uma vez que esta é uma “instalação não autorizada pela autarquia, que representa um atentado ao património da cidade”.
Segundo a câmara, a instalação obrigará “à reparação da calçada portuguesa artística existente no local, a qual ficou danificada na sequência deste ato”.
Sobre a Coca de Bordalo II
Foi em abril de 2021 que Bordalo II apresentou em Monção, no Museu Monção&Memórias, uma Coca com oito metros de altura e inteiramente construída com… lixo.
A obra de Bordalo II está exposta numa das paredes do museu.
[crédito fotografia: Arquivo/Rádio Vale do Minho]
Uma obra que alerta para “um futuro que nos preocupa a todos nós, na questão da sustentabilidade e do ambiente”, referiu na altura o Presidente da Câmara, António Barbosa.
Recorde-se que, nas suas obras, o artista costuma dar sempre corpo a animais ainda existentes, em vias de extinção ou já extintos. Foi em Monção que, pela primeira vez, construiu um animal lendário.
“Os materiais que usei são os que costumo usar nestes trabalhos: lixos, resíduos e de tudo o que sobra da parte consumista”, explicou Bordalo II aos jornalistas.
A intenção final, apontou, acaba por ser uma “inversão de papéis” entre o que é bem e o que é mal.
“Na história, a Coca era o bicho mau e o homem matava a Coca para resolver o problema. Mas nos dias de hoje, as coisas são mais sérias. O homem tende a ficar o bicho mau e em vez de matar ou arrasar a natureza, deve fazer uma introspeção sobre os seus hábitos”, disse Bordalo II.
É conhecido como “o homem que do lixo faz arte”. E quando se fala de lixo, é mesmo isso. Chapa, plástico, bidons e contentores são moldados e encaixados uns nos outros até se tornarem, geralmente, na pele de um qualquer animal. E, depois, tinta por cima.
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