Filipe Vintém é o candidato pela CDU à presidência da Câmara Municipal de Melgaço nas eleições autárquicas do próximo dia 12 de outubro.
Em entrevista à Rádio Vale do Minho, o candidato garante que tem um “projeto construído com seriedade, proximidade e compromisso”. Sobre a gestão autárquica dos últimos tempos, considera que “falta estratégia, falta visão e, sobretudo, falta vontade de inverter o caminho de perda e estagnação que se arrasta há vários mandatos”.
Rádio Vale do Minho (RVM) – Qual ou quais as razões que o levam a candidatar-se à presidência da Câmara Municipal?
Filipe Vintém (FV) – A minha candidatura resulta da confiança que o coletivo da CDU em Melgaço depositou em mim para dar voz e defender o nosso projeto para o concelho.
Um projeto construído com seriedade, proximidade e compromisso, que responde às dificuldades que enfrentamos, desde o despovoamento à falta de oportunidades para os mais jovens, passando pela necessidade de reforçar os serviços públicos de proximidade.
Candidato-me porque acredito que, em conjunto, podemos valorizar as potencialidades de Melgaço e construir um concelho mais justo, solidário e sustentável.
RVM – Que balanço faz do anterior mandato?
FV – O balanço que fazemos do anterior mandato é claramente negativo. Apesar de algumas intervenções pontuais, a verdade é que os grandes problemas estruturais do concelho ficaram por resolver.
Melgaço continua a perder população ano após ano e apresenta hoje uma das taxas de envelhecimento mais elevadas do distrito e do país.
Esta realidade não surge por acaso: é consequência direta da ausência de políticas que fixem jovens e criem condições para o seu futuro aqui.
A saída constante de jovens à procura de emprego qualificado, a fragilidade dos serviços públicos de proximidade e a dificuldade em atrair investimento sustentável deixaram o concelho numa situação cada vez mais frágil.
Um dos grandes problemas sentidos diariamente pela população é também a falta de transportes públicos, já que praticamente só existem dois autocarros por dia, o que limita a mobilidade e isola ainda mais quem aqui vive.
Falta estratégia, falta visão e, sobretudo, falta vontade de inverter o caminho de perda e estagnação que se arrasta há vários mandatos.
Melgaço tem enormes potencialidades do património natural e cultural ao vinho Alvarinho, passando pelo turismo de natureza e aventura, mas continuam mal aproveitadas.
O executivo limitou-se a gerir o dia a dia, sem um projeto claro para transformar estas riquezas em oportunidades reais para quem aqui vive e para atrair novas famílias.
O resultado é um concelho que envelhece aceleradamente, sem renovar gerações e sem perspetivas de futuro.
RVM – Que medidas propõe ao nível da habitação?
FV – Ao nível da habitação, é urgente dar uma resposta que vá além da simples gestão e que assuma este direito fundamental como prioridade.
Em Melgaço, apesar de os preços médios de venda e arrendamento serem mais baixos do que noutros pontos do país, a realidade mostra um parque habitacional pouco denso, muitas casas degradadas e desocupadas, e uma oferta reduzida de soluções acessíveis para jovens e famílias.
Assim, a CDU propõe um conjunto de medidas claras: reabilitar e recuperar habitações devolutas ou degradadas, sobretudo no centro urbano e aldeias; avançar com a construção de habitação social e a preços controlados, em parceria entre o município e o Estado; criar apoios ao arrendamento e à compra de casa para jovens e famílias de
rendimentos baixos e médios; e implementar incentivos fiscais para quem invista em requalificação com vista à habitação permanente.
Ao mesmo tempo, é fundamental garantir qualidade e sustentabilidade nas novas construções, reduzindo custos energéticos e assegurando melhores condições de vida.
Para a CDU, a habitação tem de estar ao serviço das pessoas e ser um pilar central de uma política que combata o despovoamento, fixe população e valorize o futuro de Melgaço.
RVM – Que propostas tem para o comércio tradicional?
FV – O comércio tradicional em Melgaço enfrenta enormes dificuldades, agravadas pelo despovoamento, pelo envelhecimento da população e pela saída constante de jovens, mas também pela concorrência das grandes superfícies e pelo abandono das políticas de apoio a quem mantém viva a economia local.
Para a CDU, o comércio tradicional é mais do que uma atividade económica, é parte da identidade do concelho, garante proximidade, cria emprego e dá vida às nossas vilas e aldeias.
As nossas propostas passam, em primeiro lugar, pelo reforço do apoio municipal à modernização e dinamização dos pequenos comerciantes, através de programas de incentivo à digitalização, à inovação e à adaptação dos espaços comerciais.
Defendemos a criação de uma política fiscal justa, com redução ou isenção de taxas municipais para pequenos negócios, sobretudo nos primeiros anos de atividade.
É igualmente necessário promover campanhas de valorização do comércio local, articuladas com o turismo e os
produtos endógenos, como o vinho alvarinho e a gastronomia, para atrair consumidores e visitantes ao comércio de proximidade.
Outra prioridade é garantir melhores condições para quem quer investir no concelho, criando linhas de apoio específicas para jovens empreendedores e para quem queira abrir ou manter pequenos estabelecimentos em zonas mais despovoadas.
Ao mesmo tempo, é fundamental reforçar serviços públicos e transportes, porque sem população e sem acesso fácil não há comércio que resista.
Assim a CDU propõe uma política clara de valorização do comércio tradicional, assente no apoio direto aos pequenos comerciantes, na promoção dos produtos locais e na criação de condições para que o comércio de proximidade seja visto como parte integrante da estratégia de desenvolvimento económico e social de Melgaço.
RVM – Que projetos tem para a indústria?
FV – A indústria em Melgaço tem sido praticamente esquecida, quando devia ser um pilar de fixação de população e de criação de emprego qualificado.
O concelho não pode viver apenas do turismo e do vinho, por mais importantes que sejam, é necessário apostar na diversificação da base económica e na valorização do trabalho.
Para a CDU, a prioridade é criar condições para atrair pequenas e médias indústrias ligadas aos recursos e potencialidades locais, promovendo uma economia sustentável e de proximidade.
Um passo importante foi dado com a criação da Zona Empresarial de Alvaredo, mas a sua concretização não pode ficar a meio. A primeira fase foi inaugurada recentemente, já conta com algumas empresas atribuídas e tem capacidade para receber novos investimentos. No entanto, é essencial concluir e dinamizar a segunda fase, garantindo que a área dispõe das infraestruturas necessárias, que as candidaturas são céleres e transparentes e que se criam condições reais para fixar empresas.
Não basta inaugurar, é preciso dar vida a este espaço com uma estratégia de atração de investimento que valorize a
produção e, sobretudo, que assegure a criação de empregos com direitos, salários dignos e estabilidade, para que os trabalhadores e as suas famílias possam aqui construir o seu futuro.
Outro eixo central é a valorização dos recursos endógenos, desde a fileira do vinho alvarinho à transformação agroalimentar, passando pelas energias renováveis e pelo aproveitamento sustentável da floresta.
Estes setores podem gerar emprego estável e qualificado, se houver investimento público e incentivo à instalação de novas unidades de produção.
Ao mesmo tempo, é preciso articular a indústria com o ensino e a formação profissional, criando condições para que os jovens possam aqui aprender e trabalhar, evitando a sua saída para fora do concelho.
Para a CDU, a indústria não pode ser vista como um complemento, mas sim como parte integrante de uma estratégia de desenvolvimento que rompa com a dependência do turismo e combata o despovoamento.
RVM – Que ideias tem para a saúde?
FV – A CDU vê com bons olhos a expansão e modernização do Centro de Saúde de Melgaço. É positivo termos edifícios renovados e equipamentos mais modernos, mas sabemos que isso, por si só, não resolve os problemas da
população.
Não interessa ter novas paredes e máquinas se depois faltam os recursos humanos fundamentais, médicos, enfermeiros, auxiliares e outros profissionais de saúde, para dar resposta às necessidades de quem vive no
concelho.
Um dos maiores problemas sentidos pela população é a inexistência de consultas abertas, obrigando os utentes que têm problemas de última hora a deslocarem-se para Monção ou Viana do Castelo.
Esta situação resulta, em grande medida, do encerramento do Serviço de Atendimento Permanente (SAP) em Melgaço, decisão tomada com a conivência de PS, PSD e CDS.
Para a CDU, esta opção foi um erro grave que fragilizou a resposta em saúde no concelho e deixou os melgacenses mais desprotegidos.
Consideramos que é preciso reforçar o Serviço Nacional de Saúde, com a contratação de mais profissionais, a valorização das suas carreiras e melhores condições de trabalho, assegurando também a abertura de consultas de
proximidade e o alargamento dos horários de funcionamento.
Propomos igualmente o investimento público direto no SNS, em vez da crescente transferência de verbas para os grupos privados.
A saúde tem de ser tratada como um direito fundamental e universal, e não como um negócio.
RVM – Que propostas tem para a cultura e desporto?
FV – A CDU considera a cultura e o desporto áreas fundamentais para o desenvolvimento de Melgaço e para a qualidade de vida da população.
Reconhecemos a importância do que já existe, como o festival internacional de cinema, o vinho alvarinho, as tradições culturais das freguesias e o desporto de natureza ligado ao rio e à montanha. Mas sabemos também que muito mais pode ser feito para que estas áreas não sejam vistas apenas como eventos pontuais, mas como motores permanentes de coesão social, fixação de população e desenvolvimento económico.
No campo da cultura, defendemos o apoio continuado às associações locais, muitas vezes a trabalhar com recursos escassos, mas que são fundamentais para manter viva a identidade melgacense.
É necessário assegurar financiamento estável, melhores condições de trabalho e espaços condignos, articulando a ação municipal com o movimento associativo.
A valorização do património material e imaterial, bem como a aproximação dos mais jovens à cultura local, devem ser eixos centrais.
No desporto, Melgaço tem uma vantagem única, a presença da Escola Superior de Desporto e Lazer, que deve ser vista como parceira estratégica.
É fundamental criar pontes entre a autarquia, a escola e as associações desportivas, potenciando a investigação, a inovação e a formação de qualidade que já ali existem.
Ao mesmo tempo, é preciso investir em infraestruturas desportivas acessíveis e programas de prática regular para todas as idades, promovendo o desporto como saúde, bem-estar e inclusão social.
O desporto de natureza, onde Melgaço já é referência, deve ser integrado numa estratégia mais ampla, em articulação com o turismo e a juventude.
A CDU tem vindo a defender que a cultura deve ser assumida como um direito e não como um luxo, e que o desporto precisa de forte investimento público, garantindo acesso universal, apoio às modalidades amadoras e valorização
das associações locais.
Em Melgaço, isso significa transformar a cultura e o desporto em pilares de desenvolvimento sustentado, articulados com a escola superior, com as coletividades e com a comunidade em geral.
RVM – Que propostas tem para a educação?
FV – A CDU considera a educação um direito fundamental e um pilar essencial para o futuro de Melgaço. Num concelho marcado pelo despovoamento e pela saída constante de jovens, é fundamental garantir que quem aqui vive tenha acesso a uma escola pública de qualidade, com os recursos necessários e próxima das populações.
Defendemos, em primeiro lugar, o reforço dos recursos humanos nas escolas, professores, assistentes operacionais e técnicos especializados que possam dar resposta às necessidades educativas de todos os alunos.
Não basta ter edifícios escolares requalificados se depois faltam profissionais para assegurar um acompanhamento adequado.
Propomos também o alargamento das respostas de apoio às famílias, com a criação de atividades de enriquecimento curricular diversificadas, transportes escolares eficazes e gratuitos para todos os estudantes, e cantinas com refeições de qualidade a preços acessíveis.
Para a CDU, é fundamental que nenhuma criança ou jovem fique para trás por falta de condições económicas.
Outro ponto central é a ligação da escola ao território: valorizar a cultura local, a história, o património e os recursos naturais de Melgaço como ferramentas pedagógicas que aproximem os alunos da sua terra. Ao mesmo tempo, deve reforçar-se a ligação ao ensino superior já existente no concelho, nomeadamente à Escola Superior de Desporto e Lazer, criando sinergias entre os diferentes níveis de ensino e promovendo oportunidades de formação avançada sem necessidade de sair do concelho.
Defendemos o reforço da Escola Pública, gratuita e inclusiva, a valorização das carreiras dos profissionais de educação e o investimento em meios materiais e humanos.
Para Melgaço, isto traduz-se em garantir igualdade de oportunidades, apoiar as famílias e tornar a educação um fator de fixação da população jovem.
RVM – Que futuro/ideias para a Festa do Alvarinho e do Fumeiro?
FV – A CDU considera que a Festa do Alvarinho e do Fumeiro é um património cultural e económico de enorme valor para Melgaço.
Foi uma iniciativa pioneira, que ao longo dos anos se tornou uma marca distintiva do concelho e uma referência nacional.
Por isso mesmo, entendemos que é fundamental devolver-lhe a centralidade e o protagonismo que merece, tornando-a novamente um espaço de valorização dos nossos produtores, das nossas tradições e da nossa economia local.
A festa não pode ser apenas um evento anual, mas sim parte de uma estratégia integrada de promoção do território, articulada com o turismo, a cultura, a gastronomia e o comércio tradicional.
Para a CDU, a prioridade deve ser dar voz e visibilidade aos produtores locais, garantindo que a festa é feita com e para a comunidade, reforçando o seu carácter identitário e popular.
Com uma organização transparente, participada e com visão de futuro, a Festa do Alvarinho e do Fumeiro pode voltar a ser o grande momento de afirmação de Melgaço, não só no Alto Minho mas em todo o país.
RVM – Que mensagem deixa ao eleitorado?
FV – A mensagem que deixamos aos melgacenses é clara, a CDU apresenta-se a estas eleições com a vontade e a determinação de construir uma alternativa séria, transparente e comprometida com o futuro do concelho.
Sabemos que Melgaço enfrenta problemas profundos, mas também sabemos que este é um território cheio de potencialidades, com gente capaz, trabalhadora e orgulhosa da sua terra.
A nossa candidatura resulta da confiança do coletivo da CDU, que nos escolheu para defender o seu projeto em Melgaço.
Um projeto que não se esgota nas palavras, mas que assenta em propostas concretas para a habitação, a saúde, a educação, a cultura, o comércio, a indústria e o desporto.
Um projeto que dá prioridade às pessoas e que não se submete a interesses económicos ou eleitorais.
Pedimos aos melgacenses que, no dia 12 de outubro, deem força à CDU. Que se juntem a nós nesta caminhada, porque só juntos poderemos mudar o rumo do concelho, devolver esperança às populações e afirmar Melgaço como uma terra de futuro.
O vosso voto na CDU é um voto na Honestidade no Trabalho e na Competência.
[N.R – A Rádio Vale do Minho enviou, via email, 10 questões a todos os candidatos à presidência da Câmara Municipal deste concelho nas eleições autárquicas do próximo dia 12 de outubro. São publicadas as respostas daqueles que aceitaram o nosso repto]
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