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“Quanto soube da reabertura, foi como se me tivesse saído a lotaria”. É já esta segunda-feira que termina o calvário de Cecília Puga. Dela e de muitos trabalhadores que, desde o passado dia 16 de março, se viram obrigados a fazer centenas de quilómetros para chegar ao local de trabalho que – em muitos dos casos – fica a cinco minutos de casa.
Tudo porque as fronteiras mais próximas encerraram devido às medidas de contenção do novo coronavírus (COVID-19).
Cecília é natural e residente na localidade galega de Arbo. Tem um salão de cabeleireira em Melgaço. Em poucos minutos faz esta viagem. Mas em março tudo mudou.
Conforme contou ao jornal La Voz de Galicia, a única fronteira passou a ser a ponte mais recente entre Valença/Tui. E isto trouxe números pesados para as finanças de Cecília: somou mais 200 quilómetros e mais 200 euros gastos em combustível por mês.
A cabeleireira foi-se adaptando à rotina. Passou a esperar horas na fila para atravessar a ponte e consigo levava os respetivos comprovativos de que trabalhava do lado de cá. Nunca teve problemas… até ao passado dia 4 de junho.
Foi nesse dia que um guarda do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) disse que os documentos não estavam de acordo com a lei.
“Disseram-me que eu tinha de provar que a minha empresa ainda estava aberta para ter estatuto de trabalhador transfronteiriço. Fiquei ali no posto cinco horas até conseguir provar isso com uma aplicação no telemóvel. Trataram-me como se ali fosse a fronteira entre o México e os Estados Unidos da América”, contou a cabeleireira ao La Voz de Galícia.
Tensão e medo
Desde esse episódio que Cecília passou a viver numa tensão maior. Sentia medo de atravessar a ponte e reencontrar novamente aqueles guardas. E encontrou mesmo. “Não me deixaram passar. Ligaram para a GNR que me multou por não levar um documento chamado guia de trânsito”.
Os dias da cabeleireira passaram a ser de tal forma dramáticos e tensos que a profissional não queria mais cruzar a ponte de novo.
Solidários com Cecília, os clientes disponibilizaram-se para a receber em casa. Ao La Voz de Galicia, a cabeleireira diz que vai recorrer da multa recebida e denunciar o agente do SEF poder. “Mas também quero agradecer o trabalho que todos os outros agentes do SEF, da GNR, da Polícia Nacional e Guarda Civil realizaram diariamente no sentido de facilitar-nos a vida nesta situação”, concluiu.
[Fotografia: La Voz de Galicia]
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