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Sansão Vaz. É difícil encontrar um valenciano adulto que não recorde com saudade este nome. Savá, assim era conhecido, nasceu em 1920. Com pouco mais de 30 anos iniciou uma coleção curiosa: rádios antigos. Até à sua morte, ocorrida há poucos anos, juntou quase 500 aparelhos.
“Comecei a dedicar-me a consertar pequenas avarias, montei uma oficina aqui em casa, tirei um curso de electricidade e lá me fui especializando nos rádios de válvulas, o resto não me interessa e quanto mais antigo melhor”, explicou Savá, em 2007, numa entrevista dada ao Correio da Manhã.
“Tinha de me ocupar, não podia estar sem fazer nada e, como tinha muitos aparelhos para arranjar, comecei a fazer amizades entre os antiquários e a frequentar as feiras de antiguidades e velharias.”
Ao longo da vida, Sanção Vaz colecionou quase 500 aparelhos de rádio
[Fotografia: DR]
Conta aquele jornal que a família não gostou muito de ver a casa literalmente invadida por rádios de todos os tamanhos e modelos. “Tenho dezenas de marcas e centenas de modelos e alguns já naquela altura custaram mais de 100 contos… Só parei porque realmente não tenho espaço. A casa está atravancada, há aparelhos em todos as divisões e torna-se difícil manter a colecção nestas condições”, justificou.
Entretanto, Sansão Vaz partiu. Mas todo o seu espólio ficou. É tão grande e tão variado que apenas uma quarta parte está em exposição permanente na cidade que ele tanto gostava: Valença.
De 1928 até à década de 60
Esta exposição, no Arquivo Municipal, mergulha o visitante no imaginário da rádio antiga, das válvulas, dos botões cromados, do som da radiofonia, de design´s retro, das velhas grafonolas. Um convite irresistível para os nostálgicos da rádio descobrirem aparelhos tipo cofre, capela e portáteis, das décadas de 20 a 60, do século passado.
Parte da coleção de Sanção Vaz exposta no Arquivo Municipal de Valença
[Fotografia: José Monte]
Da Holanda à Alemanha, do Canadá aos Estados Unidos da América, do Japão ao Brasil e tantos outros, é possível encontrar aparelhos que colocaram o mundo a comunicar em tantas línguas e lugares.
A coleção de Sansão Vaz tem aparelhos que vão de 1928 até à década de 60, com marcas como a Phillips, RCA, His Master’s Voice, Marconi, Telefunken, Siemens, Roberts Radio, Ultra, Viking, entre outras.
Pela curiosidade, até não faltam três exemplares alemães, do tempo do nazismo, chamados rádios “Mordaça” por só emitirem em áreas restritas deste país.
E agora?
Em 2018, é lançado um livro sobre a obra de Sanção Vaz, da autoria de Luís Morais. O espólio é pertença dos familiares mas, aponta o autor da obra, “estão dispostos a ir ao encontro do desejo de Sansão Vaz. Ele queria que a coleção ficasse em Valença”.
Visivelmente empenhado nesta causa, Luís Morais fez questão de estender o apelo “a todos os valencianos”. “A população deve apoiar a Câmara neste desiderato. É uma das maiores coleções do género em todo o país e já há vários municípios interessados em acolher este espólio”, avisou na altura o autor do livro.
Luís Mirais, autor de Radiofonia – a Paixão de um Valenciano – Sansão Vaz
[Fotografia: DR]
Confrontado com esta questão pela Rádio Vale do Minho, o então presidente da Câmara de Valença, Jorge Mendes, começou por apontar-nos desde logo o número de aparelhos de que estamos a falar.
“É um espólio enorme! Não queremos fazer um armazém de rádios. Um espaço para acolher esta obra tem de ser um espaço vivo, em que os rádios teriam de tocar”, sublinhou.
“É uma coleção tão grande que, por exemplo, poderia ser rotativa entre vários Municípios. Temos é de pensar num espaço em que esses rádios tenham vida. Não só toquem como estejam bem cuidados. Se fosse para ter prateleiras e prateleiras de rádios, já tínhamos há muito tempo”, prosseguiu o autarca.
Várias exposições… mas só com centenas ou dezenas
O espólio de Sansão Vaz já percorreu vários concelhos pelo país todo. No entanto, as pessoas nunca têm a possibilidade de vê-lo por inteiro devido ao grande número de aparelhos que colecionou.
Para sempre, ficará o amor e a dedicação de Savá aos seus rádios. Gabava-se de já ter sido “o melhor comprador de seringas”. Mas logo explicou que “só com a seringa é que se consegue introduzir um produto específico para prevenir o aparecimento do bicho da madeira. Isto dá muito trabalho”.
Vídeo produzido em 2018 por um dos netos de Sansão Vaz com os aparelhos de rádio do avô
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