Os trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) apelaram ontem ao Governo para adotar, como alternativa ao processo de reprivatização que conta apenas com um interessado, a manutenção da empresa na esfera pública.
“A desistência do grupo brasileiro [Rio Nave] é apenas um episódio num processo que já não começou bem. Defendemos uma solução que viabilize os estaleiros, por exemplo, como em modelos já aplicados com sucesso noutras empresas em que o Estado manteve a sua participação e abrindo parte ao capital privado”, afirmou à Lusa o coordenador da comissão de trabalhadores dos ENVC, António Costa.
O grupo russo RSI Trading é agora o único na corrida à venda dos estaleiros, depois de os brasileiros da Rio Nave terem desistido do negócio, conforme avançou hoje à Lusa fonte governamental.
Ainda assim, e face à situação atual da empresa, António Costa reconheceu a necessidade de uma reestruturação interna, mas mantendo a empresa na esfera pública.
“É apenas mais um atropelo. O que nós necessitávamos era de uma reestruturação, bem feita e que permitisse tornar a empresa mais eficaz nos seus procedimentos e não, como estamos agora, parados mesmo tendo trabalho a fazer para a Venezuela”, afirmou ainda António Costa, referindo-se à encomenda de dois navios asfalteiros, por 128 milhões de euros, que ainda não avançou.
Em alternativa à reprivatização, os trabalhadores reclamam a constituição de uma “parceria estratégica” com grupos internacionais ou a alienação de apenas parte do capital social da empresa, contrariamente aos 95% previstos pelo Governo.
“Se não for possível, a nível financeiro, manter a empresa totalmente pública, que sigam os bons exemplos nacionais em que o Estado ficou com parte do capital e em que as empresas se tornaram competitivas”, disse ainda António Costa.
Segundo fonte governamental, o grupo brasileiro Rio Nave, um dos dois selecionados para a última fase da reprivatização dos ENVC, já comunicou a intenção de “não manter” a proposta pela empresa pública portuguesa, perante a “indefinição” de Bruxelas em autorizar a conclusão do negócio.
A venda da empresa está suspensa desde dezembro devido a pedidos de esclarecimento apresentados pela Comissão Europeia ao Governo português, por dúvidas na atribuição de apoios estatais aos ENVC de 180 milhões de euros.
A propósito deste processo de investigação lançado por Bruxelas, elementos dos ministérios das Finanças e da Defesa reuniram-se hoje na Comissão Europeia para tentar convencer as autoridades comunitárias da necessidade de “concluir rapidamente” a venda da empresa e “salvaguardar os postos de trabalho”.
Apesar deste impasse, o grupo russo RSI Trading já confirmou o prolongamento por mais um mês da validade da proposta, que entretanto expiraria, o mesmo não acontecendo, assim, com os brasileiros da Rio Nave.
“Estamos na corrida e vamos continuar. Mas esta incerteza não é nada positiva e vemos com preocupação a degradação das condições da empresa e da força anímica dos trabalhadores”, explicou à Lusa Frederico Casal-Ribeiro, representante em Portugal dos interesses dos russos RSI Trading.
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