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Pandemia: Caminha entrou em desespero… e pediu socorro a Sidónio Pais

31 Outubro, 2020 - 15:59

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PUB Na próxima segunda-feira, às 10h00, o presidente da Câmara Municipal de Caminha, Miguel Alves, vai realizar uma reunião da Comissão Municipal de Proteção Civil. Um encontro que vai juntar os responsáveis […]

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Na próxima segunda-feira, às 10h00, o presidente da Câmara Municipal de Caminha, Miguel Alves, vai realizar uma reunião da Comissão Municipal de Proteção Civil. Um encontro que vai juntar os responsáveis municipais pela Proteção Civil, da GNR local, da Capitania do Porto de Caminha, das duas corporações de Bombeiros, da Segurança Social e das Juntas de Freguesia do concelho.

O objetivo é encontrar soluções para travar a incidência da pandemia da COVID-19 que, recorde-se, já provocou quatro mortes. Caminha segue com 77 casos ativos e são já 178 casos confirmados neste concelho que é agora um dos mais afetados pela nova doença no Vale do Minho.

Há 102 anos, precisamente em finais de outubro, Caminha também se encontrava em grandes dificuldades para combater uma outra pandemia: a gripe pneumónica. De acordo com o estudo Impactos da Gripe Espanhola na Região do Alto Minho, da Universidade do Minho, Vila Praia de Âncora e Seixas foram as duas freguesias mais fustigadas pela segunda vaga desta pandemia.

Na altura, as praias deste concelho já tinham grande fama. “Assim, não é de estranhar que Vila Praia de Âncora se transformasse num dos principais focos de contágio e disseminação”, considera o trabalho académico.

“De facto, vários jovens pescadores locais, banhistas e criadagem faleceram a partir 8 de setembro, sem causa aparente. A 3 de outubro, o jornal Notícias de Caminha regista já o início da pandemia, a ida e vinda de soldados da Grande Guerra, a par da saída de banhistas da Praia d’Âncora, num contexto geral de contágio em expansão”.

De forma repentina, os doentes começaram a entrar em catadupa no Hospital da Misericórdia de Caminha. Entre os meses de outubro e novembro, a média do número de doentes variava entre 80 e 90. Em 1918, durante esses dois meses, o número alcançou os 157.

“O primeiro doente registado com gripe foi um marinheiro, internado já no dia 1 de setembro. Passou-se um mês e, em 4 de outubro, a pandemia já se encontrava descontrolada, pois, a partir dessa data, só deram entrada exclusivamente doentes com gripe”, contam os investigadores.

“As ocupações registadas indicam que os profissionais ligados ao mar e ao rio (marinheiros, grumetes, fogueiros, barqueiros, pescadores, remadores) foram atingidos em primeiro lugar e em maior número (37,88%), mercê de um maior contacto com outros locais. Seguiu-se um conjunto contaminado de domésticas, jornaleiras e criadas (47%)”.

O vírus Infuenza, responsável pela pandemia, preferia vítimas jovens. Neste hospital de Caminha, os doentes contagiados apresentavam uma média de idades a rondar os 31 anos. 

 

Pedido de socorro a Sidónio Pais

 

A situação agravava-se de dia para dia. Ainda durante o mês de outubro de 1918, o Provedor da Misericórdia de Caminha decide escrever ao então Presidente da República, Sidónio Pais, que era natural daquele concelho. 

Nos telegramas, o Provedor lamentou uma pandemia que não foi tomada em atenção no tempo devido. “Informava (…) sobre o alastramento da pandemia no concelho e o terror da população, solicitando assim a vinda de médicos, subsídios para montagem de hospitais provisórios e envio de medicamentos ou de substâncias de desinfeção”, descreve o estudo da Universidade do Minho.

Somavam-se mortos. Mas quem eram? “A maioria das vítimas que tombaram durante a pandemia pertencia a camadas populacionais mais desfavorecidas, onde os índices de alimentação, salubridade e higiene habitacional eram mais baixos e as famílias numerosas”, refere o estudo.

 

Espírito solidário

 

A Câmara Municipal de Caminha decidiu então reforçar todos os apoios. Um espírito de filantropia espalhou-se por todo o concelho no sentido de ajudar quem mais precisava.

Particulares cediam meios de transporte para doentes. Foi criada a sopa económica. “Nas freguesias mais afastadas, onde a ação médica não chegava, eram os párocos que acudiam os doentes em visitas domiciliárias, distribuindo medicamentos e conselhos. Uma Delegação da Cruz Vermelha foi instalada em Vila Praia de Âncora”, prossegue a investigação.

Antes da pneumónica, a mortalidade mensal em Caminha rondava as 20 pessoas. Só durante o mês de outubro de 1918, morreram mais de 130 pessoas no concelho.

 

[Fotografias: DR]

 

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