Segundo vários historiadores, o combate entre São Jorge e a Coca poderá estar a realizar-se em Monção há cerca de 500 anos.
É um momento que acontece anualmente naquele concelho, no anfiteatro do Souto, na quinta-feira do Corpo de Deus.
É um dos pontos mais altos das festividades que, em Monção, são popularmente conhecidas como Festa da Coca, aludindo ao nome com que foi batizado o animal.
Este ano, as festas vão realizar-se de 19 a 22 de junho.
[fonte: Município Monção]
A multidão enche a arena e, evidentemente, quase todos torcem por S. Jorge – que, contrariamente ao dragão, simboliza o bem.
Para ajudar à emoção (apenas e somente isso!) têm surgido elementos que puxam pela Coca.
As regras são simples: num primeiro round, o Santo tem de espetar uma lança por três vezes na boca do animal. Depois, já munido de uma espada, tem de cortar uma das orelhas da Coca.
Parece fácil, mas à medida que o combate avança, cavalo e cavaleiro têm de fazer cada vez mais esforço. Até porque a cabeça do dragão move-se para um lado e para outro, o que dificulta ainda mais a tarefa.
[crédito fotografia: Arquivo/Rádio Vale do Minho]
[crédito fotografia: Fernando Guedes/Grupo FB Os Amigos de Monção]
“Estar à coca”
“Dizem que a Coca era um monstro que outrora andava aqui nas águas do rio Minho e que apanhava as raparigas que encontrava na ribeira. Até que um dia, apanhou a mulher de S. Jorge”, contou o historiador José Hermano Saraiva em 1998, durante o programa televisivo Horizontes da Memória dedicado a Monção.
“Claro que S. Jorge não gostou. Ficou muito zangado. E travou um grande combate com a Coca… e matou-a”.
Mas que verdade é que pode existir nisto tudo?
Conta o historiador que “na Galiza existe o mesmo simbolismo da Coca”, dando exemplos de várias expressões galegas onde o termo se aplica como se fosse “um papão para meter medo”. E lança para a mesa a conhecida expressão “estar á coca”. “Porque o medo espreita-nos sempre”, disse.
[crédito fotografia: DR]
[crédito fotografia: Grupo FB Os Amigos de Monção]
S. Jorge poderá ser… S. Miguel
Mas o que tem a Coca a ver com o Corpo de Deus? “Nada”, diz José Hermano Saraiva.
Isso levou etnógrafos e investigadores a tentar perceber qual a origem deste episódio “aparentemente pagão” colocado numa celebração cristã como é o caso do Corpo de Deus.
“Durante o século 15 e talvez uma parte do século 16, havia duas procissões que eram obrigatórias e que se faziam perto uma da outra: uma era a do Corpo de Deus e a outra era a de S. Miguel”, explicou José Hermano Saraiva.
“S. Miguel era o chamado Anjo Custódio. Era o Anjo Protetor de Portugal. Os Reis de Portugal mandavam representar as cinco quinas no escudo que S. Miguel exibia. É o guarda dos céus que trava o combate com satanás”, explicou.
Ora, em tom dedutivo, o historiador recorda que este combate entre o anjo do bem e o anjo do mal foi muitas vezes teatralizado na idade média.
“Como as duas procissões eram obrigatórias, começaram a incorporar o episódio da luta de S. Miguel nas celebrações do Corpo de Deus”.
[crédito fotografia: Grupo FB Os Amigos de Monção]
[crédito fotografia: Grupo FB Os Amigos de Monção]
Mas porque é que mudaram o nome ao Santo?
“Por uma razão simples. S. Jorge passou a ser o patrono do nosso exército”, concluiu José Hermano Saraiva para quem esta tradição monçanense “poderá ser uma reminiscência do teatro medieval em que se representava a luta entre S. Miguel e lúcifer”.
Um dia em que a Coca venceu mesmo
Diz a lenda que, sempre que S. Jorge ganha, o ano será de boas colheitas e de bom vinho em Monção. E o Santo ganha todos os anos (ou quase).
No entanto, o insólito já aconteceu. Há testemunhos de quem tenha presenciado o impensável.
Há uns 30 anos, diz-se, houve em Monção um combate em que o cavalo se assustou com a Coca. O animal galgou a parte onde o público estava sentado. A Coca venceu.
Veja o programa de José Hermano Saraiva em Monção (1998)
A próxima edição da Festa da Coca vai realizar-se entre os próximos dias 19 e 22 de junho.
O porgrama deverá ser oportunamente anunciado pelo Município.
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