A Casa Museu de Monção recebeu este sábado um vasto leque de objetos pessoais de Alberto Gomes, primeiro futebolista minhoto a vestir a camisola da seleção nacional. Entre as relíquias, destaque para uma camisola usada pelo desportista durante a sua carreira. A doação foi acompanhada pela assinatura do respetivo protocolo que se integrou numa cerimónia de homenagem ao já falecido atleta, pela passagem do centenário do seu nascimento.
Na cerimónia marcaram presença várias individualidades ligadas a todas as áreas profissionais. Na linha da frente, vários familiares do futebolista. Entre eles Carlos Alberto Gomes, filho do jogador. “É evidente que estou muito satisfeito com esta homenagem. A dedicação dele a Monção e a Coimbra foi inexcedível. Fico muito feliz por hoje ser reconhecido todo esse amor”, disse.
Já aposentado, Carlos Alberto Gomes foi banqueiro de profissão. Optou por não seguir a carreira de futebolista mas confessou que a habilidade que o pai tinha para a bola chegou a despontar-lhe no sangue. “Ainda joguei nos júniores da Académica mas, com o percurso da vida, tive de largar. Mas tenho netos que vão ser grandes jogadores como foi o bisavô. Um deles, o Luís Gomes, está já nas escolas do Sporting”, revelou com um sorriso.
José Emílio Moreira, antigo presidente da Câmara de Monção, esteve também nesta cerimónia. À rádio Vale do Minho, o também Grão-Mestre da Confraria do Alvarinho realçou “um excelente profissional. Homenagear este género de pessoas é lembrar o seu testemunho, a sua personalidade, o seu mérito e sobretudo dizer às gentes de hoje e aos mais novos que é preciso sempre trabalho e esforço para atingirmos objetivos nobres”. Convicto da importância deste evento para a juventude, José Emílio Moreira realçou que “a história tem de ser conhecida. Só teremos um futuro sustentado se conhecermos bem o nosso passado”.
Durante a sessão, teve ainda lugar uma conferência intitulada “Alberto Gomes, um exemplar homem de família, cidadão de elevada dimensão e notável desportista”, da autoria de José António Barreto Nunes. Em declarações à Vale do Minho, o juiz conselheiro jubilado considera que o futebolista monçanense “é uma lenda do desporto português. Foi uma figura que marcou muito Monção durante o século XX e que teve um prestígio nacional como jogador de grande qualidade”. Barreto Nunes espera que Alberto Gomes seja ainda mais lembrado ao nível nacional, sobretudo como “um jogador de um comportamento exemplar em campo. Os adversários até o cumprimentavam no final dos desafios pela maneira como ele jogava, pelo seu fair-play, pela disciplina e pelo exemplo que dava a todos”.
Primeiro minhoto a vestir ‘as quinas’
Alberto Gomes foi o primeiro futebolista do Minho a vestir a camisola da Seleção Nacional. Nasceu em Monção no dia 29 de Dezembro de 1915. O Berto, assim era conhecido pelos familiares e amigos, veio ao mundo num país às portas da I Guerra Mundial.
De acordo com a biografia publicada no jornal “Diário do Minho”, frequentou o Colégio de Valença e o Liceu de Viana do Castelo. Desde muito cedo começou a demonstrar o jeito que tinha para a bola. Os primeiros golos foram marcados ao serviço do S.C. Vianense, mas nunca esqueceu a sua terra Natal. Chegou mesmo a disputar alguns jogos com a camisola do Desportivo local, fundado em 1933.
Seguiu para Coimbra onde se matriculou no curso de Ciências Histórico-Filosóficas. Nunca perdeu a paixão pelo futebol. O talento depressa o fez uma estrela na Académica. Em 1939, frente ao Benfica, conquista a primeira Taça de Portugal. A Académica venceu por 4-3 e Alberto Gomes assinou um dos golos da Briosa.
Foi em 1940 que Alberto Gomes vestiu pela primeira vez a camisola da ‘equipa de todos nós’. Aconteceu em Paris, num desafio em que a França nos venceu por 3-2. Ainda assim, o monçanense foi considerado o melhor em campo pela revista “Stadium”. Voltou a vestir a camisola das ‘quinas’ em 1942, em Lisboa, onde derrotámos a Suiça por 3-0. E desta vez Alberto Gomes marcou um dos golos desta vitória.
Já casado, Alberto Gomes regressou a Viana do Castelo. Foi diretor e proprietário do Colégio do Minho. No entanto, numa altura em que a Académica se via aflita para não descer de divisão, o monçanense regressou à cidade dos doutores para treinar a Briosa. O clube desceu mesmo, mas foi Alberto Gomes que o trouxe de regresso ao escalão principal. Apesar de treinador, também jogava e valeu o golo da vitória marcado ao Portimonense (2-1) que vestiu Coimbra de festa.
Durante o resto da sua vida, Alberto Gomes manteve sempre uma forte ligação à Académica de Coimbra. O princípio dos anos 80 é marcado pelo regresso à terra que o viu nascer. Conta o “Diário do Minho” que foi homenageado pela Câmara de Monção em 1979. Cerca de uma década depois, em 1990, foi agraciado pela Federação Portuguesa de Futebol com a Medalha de Comportamento Exemplar. Faleceu a 16 de Fevereiro de 1992, em Coimbra. Recebeu ainda, a título póstumo, a Medalha de Ouro de Mérito Desportivo pela Câmara Municipal de Monção.
Veja o vídeo aqui (copie o link para a barra de endereços):
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