A presidente da Associação Portuguesa de Demografia, Maria Filomena Mendes, alertou para a necessidade de uma "discriminação positiva" das zonas de fronteira, perante o "acentuar" da tendência das populações para se voltarem para Espanha.
"Esta tendência é natural porque as pessoas sentem-se atraídas por quem lhes proporciona melhores serviços, com maior qualidade, que nestes casos estão do outro lado da fronteira, em Espanha", apontou Maria Filomena Mendes, em declarações à Agência Lusa.
Em causa estão as dificuldades sentidas por populações da fronteira na obtenção de serviços como televisão digital ou cobertura pelas operadoras de telemóveis nacionais.
Os mesmos serviços que, a partir de Espanha, são facilmente disponibilizados aos portugueses, nas suas próprias casas.
"Há uma necessidade grande de se investir mais nestas zonas, em ter condições diferenciadas, na discriminação positiva para estas populações. Caso contrário estamos a falar do despovoamento a chegar perto do mar mas a começar na fronteira, a acentuar-se", sublinhou.
Fruto de "desinvestimento" ao longo dos anos, as zonas de fronteira em Portugal, explicou, apresentam-se hoje com "pouca população", o que também explica a "progressiva redução" de serviços.
"E é natural que, face à falta de oportunidades, os mais jovens procurem oportunidades diretamente do outro lado da fronteira, onde por norma as cidades são maiores e disponibilizam outras condições", explicou.
Por outro lado, Fernanda Cravidão, especialista em Geografia Humana da Universidade de Coimbra, prefere recordar que o "significado político" de fronteira "dilui-se" consoante "nos aproximamos de Espanha".
Por isso mesmo rejeita em falar na perda de soberania, com "serviços que vêm de Espanha, sem nunca chegarmos a passar a fronteira".
"O significado desta linha não é o mesmo para uma pessoa do litoral ou para quem sempre viveu junto à fronteira. Basta vermos as histórias do contrabando, os canais de televisão e de rádio que sempre se viram e ouviram nestas zonas", começou por apontar.
Fernanda Cravidão, que também integra o Instituto de Estudos Geográficos, admite, contudo, que o despovoamento das áreas transfronteiriças "em vindo a provocar "em alguns serviços, do lado português, uma maior influência de Espanha".
"Em termos de gestão territorial isso preocupa-me e é grave. Quer dizer que as nossas políticas, falharam, não olham da mesma forma para quem está no interior, junto à fronteira, e para quem está no litoral. Permitem um desinvestimento, em termos de serviços, nestas zonas", criticou ainda.
Perante esta situação, garante que a "influência" espanhola do lado português "só tem tendência a aumentar".
"Há serviços públicos que deviam ter assegurada uma cobertura de igual qualidade para toda a população. E por exemplo isso já hoje não acontece na televisão pública", concluiu.
FONTE: LUSA
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