O presidente da Câmara de Viana do Castelo admitiu hoje a sua “profunda apreensão” com o futuro dos estaleiros navais da cidade, face à saída de um dos três administradores executivos da Empordef e ao “silêncio” do Governo.
“Temos procurado falar com o Governo e, infelizmente, temos tido um grande silêncio”, afirmou hoje o autarca socialista José Maria Costa, depois de receber na Câmara Municipal a Comissão de Trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC).
O encontro surgiu na sequência do pedido de demissão apresentado pelo administrador executivo da Empordef, Luís Miguel Novais, que criticou a “inércia” na tomada de decisões por parte do Ministério da Defesa e dos colegas daquela holding pública.
“É com profunda preocupação e muita apreensão que vemos o estado a que os estaleiros estão a chegar. Estas demissões na Empordef acentuam a necessidade de uma intervenção política ao mais alto nível para se viabilizar esta empresa”, apontou José Maria Costa.
“Não nos podemos dar ao luxo de perder uma das nossas joias da coroa”, disse.
Face à demissão de Luís Miguel Novais, conhecida durante o fim de semana, a Comissão de Trabalhadores dos ENVC reuniu hoje com o administrador daquela empresa pública, Jorge Camões, mas sem obter qualquer garantia sobre o futuro.
“Estamos com muitas reservas, porque a decisão política sobre os estaleiros tarda a acontecer”, apontou o porta-voz dos trabalhadores, António Barbosa, após ser recebido na Câmara de Viana do Castelo.
Acrescentou que a empresa “tem muito trabalho, mas falta liquidez para a avançar” – tal como referiu à Lusa o administrador demissionário da Empordef -, insistindo na “necessidade” de decisões.
“Este Governo tem que tomar decisões rápidas sob pena de ser tarde. As afirmações deste administrador [agora demissionário] não deixam de ser preocupantes para nós”, rematou António Barbosa.
Em causa está a demissão de Luís Miguel Novais das funções de administrador executivo da Empordef devido, afirmou à Lusa, à “inércia” da administração daquela holding em tomar decisões sobre o futuro e a gestão dos ENVC.
“Há decisões de gestão que têm de ser tomadas, independentemente da decisão final do Governo sobre a empresa. Esta inércia a que estamos a assistir desde novembro está a levar a um esgotamento dos estaleiros”, afirmou Luís Miguel Novais.
Novais disse que “esta administração foi muito coesa até à elaboração de uma solução para os estaleiros, que foi apresentada a 31 de outubro ao Governo”.
“Depois disso, os meus colegas alinharam numa perspetiva de não autonomia face a quem nos nomeou, enquanto eu entendo que devemos assumir o mandato e decidir. Por isso, fiquei em minoria”, apontou.
Acrescenta que a solução para os estaleiros de Viana “está a deslizar no tempo” e que o período de avaliação “acabou em novembro”, faltando agora decisões, antes de tudo de gestão corrente.
“Penso que já estamos fora de prazo para decidir e sobretudo para executar. O Governo tem os seus tempos, mas nós, gestores públicos, somos pagos para tomar decisões. Quando não as tomamos, mais vale não estar a gastar o salário ao Estado e, por isso, fui-me embora”, disse ainda.
A administração da Empordef, holding do Estado para as indústrias da Defesa, é liderada por Vicente Ferreira, empossado no cargo em agosto de 2011 e conta agora com apenas um administrador executivo, António Mendonça, e outro não executivo, Jorge Camões. Este último lidera diretamente os ENVC, participados a 100 por cento pela Empordef.
Numa nota enviada à Agência Lusa, o presidente da Empordef, Vicente Ferreira, disse que esta demissão se deve a “uma visão diferente” em relação “à solução preconizada” para os ENVC.
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