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Melgaço

Desertificação: sapadora florestal com 6 filhos luta contra “morte” de aldeia de Melgaço

18 Junho, 2012 - 08:19

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Se a desertificação alastra em Castro Laboreiro, Melgaço, a culpa não pode ser atribuída, de todo, a Maria do Carmo Soares, uma sapadora florestal daquela aldeia montanhosa que teve a coragem de “trazer seis filhos ao mundo”.

Se a desertificação alastra em Castro Laboreiro, Melgaço, a culpa não pode ser atribuída, de todo, a Maria do Carmo Soares, uma sapadora florestal daquela aldeia montanhosa que teve a coragem de “trazer seis filhos ao mundo”.

“Foi um ato de coragem, é verdade, mas foi também uma decisão assumida. Gosto de ter a casa cheia”, confessa Maria do Carmo, 43 anos, divorciada há três e sapadora florestal há cinco.
O seu filho mais velho tem 25 anos e a mais nova apenas 12. Quatro andam a estudar e dois trabalham. Os seis ainda vivem na casa da mãe, embora dois passem grande parte do tempo fora, já que um estuda em Portalegre e o outro trabalha na Suíça.

Maria do Carmo assume-se como “mãe galinha”, mas reconhece que não vai ser fácil mantê-las em Castro Laboreiro.

“Sabe a que distância estou de uma caixa multibanco? Estou a 26 quilómetros. E quem diz do multibanco diz do centro de saúde, da feira, do hipermercado. Acha que há algum jovem que queira viver assim, longe de tudo?”, questiona.

Segundo os Censos 2011, Castro Laboreiro tinha 540 habitantes, numa densidade populacional de seis pessoas por quilómetro quadrado.

Mas, assegura Maria do Carmo, a tendência é sempre para diminuir, porque os jovens “fogem” à procura de novas oportunidades e a população está cada vez mais envelhecida.

“Só nos últimos seis meses, morreram 20 pessoas em Castro Laboreiro. Na esmagadora maioria dos casos, de velhice”, afirma, acrescentando que há “três ou quatro anos” que não nasce nenhum bebé na aldeia.

Maria do Carmo tem consciência de que, ou as coisas mudam muito e o Governo “se chega à frente” com incentivos ao povoamento do interior, ou daqui a alguns anos não haverá “vivalma” em Castro Laboreiro.

Dos seus seis filhos, só três frequentaram o ensino primário na freguesia, já que as seis escolas que ali havia foram entretanto encerradas, por escassez de crianças.

Os outros três já tiveram de ir para um centro escolar a 12 quilómetros de distância, servido por uma estrada sinuosa que, no inverno, por vezes está cortada, por causa da neve.

“A escola onde eu andei fica aqui a 50 metros da minha casa, está em excelente estado de conservação, mas está fechada, sem qualquer uso. Tal como a escola, esta freguesia também vai fechando, aos poucos”, refere, com tristeza.

A esperança reside agora na “gente de fora” que está a comprar casas em Castro Laboreiro, para reconstruir.
“Pode ser que eles salvem isto, pode ser. Bom chouriço, bom presunto e, sobretudo, ar puro são coisas que aqui não faltam. Pode ser que isto os convença a virem para cá, a investirem cá e a terem filhos cá”.

Depois do contributo demográfico, Maria do Carmo promete continuar a contribuir, como sapadora florestal, para que a aldeia continue a ser um destino atrativo, com limpeza de caminhos e matas e ações de prevenção de fogos florestais.

“Gostava tanto que isto voltasse a ter vida como na minha juventude, em que bastava um gira-discos para logo juntar muita mocidade num bailarico numa garagem ou numa eira”, remata, sem esconder a angústia que sente com a crescente desertificação da aldeia.